terça-feira, 12 de janeiro de 2010

História de solidariedade

Uma história com solidariedade


A história que vou contar recebia de um amigo que vive lá longe, no Canadá. O senhor Oliveira mandou-me esta história e eu fiquei sem saber se o meu amigo Oliveira não está dentro desta história.
Correspondo-me com o Oliveira há alguns anos. Nunca nos encontramos. Conhecemo-nos pela internet e a nossa amizade resulta de andarmos num mesmo barco. Andamos no mesmo barco, temos, eu e o amigo Oliveira, filhos com deficiência. Esta história toca-nos e não sei se é um pedaço da vida do Oliveira.
E a história começa assim.
Era um pequeno grupo de amigos que trabalhavam no mesmo sítio. Nesse grupo, o Mauro divertia os colegas com seus ditos e partidas. Todos gostavam dele e puxavam por ele. Não havia dia que o Mauro não pregasse partidas.
O principal alvo das brincadeiras do Mauro era o Hernâni.
O Hernâni falava pouco, mesmo muito pouco. À hora das refeições, o Hernâni afastava-se do grupo. Comia da sua marmita debruçado num silêncio continuado. Comia devagarinho como se estivesse a poupar a comida que trazia, dava a impressão que estava com fastio. Nunca lhe viram na cara ares de saciado. O Hernâni acabava sua refeição compassado pelo comer dos seus colegas. Arrumava a marmita rápido como a querer dizer que não queria dar a conhecer o que comia.
O Mauro estava sempre a pregá-las ao Hernâni. E o Hernâni nunca deu ares de zangado, agastado, aborrecido ou de irritado com partidas do Mauro. Respondia com palavras simpáticas aos atrevimentos do Mauro. Sempre com um sorriso tolerante e amigo e com olhar doce. O comportamento tolerante do Hernâni atiçava mais o Mauro com ditos, partidas e brincadeiras que mais podiam agastar a paciência do Hernâni.
Os companheiros do grupo riam, achavam piada, acrescentavam alguma pimenta às palavras do Mauro. Mas o Hernâni a todos envolvia com um sorriso amigo e tolerante.
Ora um dia o Mauro programou uma partida com antecedência de dias.
A semana trazia um feriado e seguia-se uma ponte.
O Mauro publicitou no grupo que ia aproveitar aqueles dias para umas pequenas férias e que ia fazer pesca e caça, diversões preferidas. E se a pescaria fosse abundante, prometeu que trazia para os colegas uns quilos de pescado. A notícia ficou. Todos desejaram boa pescaria ao Mauro.
De regresso ao trabalho, Mauro apresentou-se carregado. Trazia sacos e arcas com peixe.
Com atitude cerimoniosa, começa a distribuição pelos colegas. Todos agradeciam e admiravam a abundância e a qualidade do pescado.
O saco mais volumoso e pesado ficou para o fim. Foi entregue ao Hernâni.
O Hernâni recebeu, agradeceu e começou a falar num tom de voz desconhecido.
E disse que ia levar tudo para casa, que em sua casa há muitos dias, há meses, há anos não entrava nada assim. E continuou em tom baixo e concentrado a relatar as dificuldades que iam lá por casa. Um filho com deficiência em idade adulta que dava muito trabalho pela incapacidade que tinha. Outros filhos crianças. A mulher doente, desgastada pelo trabalho de arrastar aquela vida de dedicação. Doente por muitas noites acordada para acudir ao filho deficiente. E disse que comia afastado do grupo e muito devagarinho para que os colegas não sentissem a fome que trazia naquela marmita vazia.
Os colegas ouviam em silêncio e sem aqueles risos que acompanhavam as partidas do Mauro.
E é naquele instante que o Mauro salta lá de trás, empurra os colegas para arrancar das mãos do Hernâni o saco, a prenda que lhe tinha distribuído.
No saco do Hernâni, aquele volume e peso era de escamas, cabeças, desperdícios de peixe que não se comem.
Já era tarde. O Hernâni já tinha visto a sua parte. Esboçou um sorriso triste, mas tolerante.
Os colegas, o Mauro, todos começaram a depositar ao lado do Hernâni tudo o que tinham.
E ali começou um movimento de solidariedade para dar dias de futuro à casa do Hernâni.
Na casa do Hernâni começou a entrar o sol. E para o filho com deficiência, o Mauro e os colegas que riam com as partidas solidarizaram-se numa solução para o filho do Hernâni e que fosse solução para outros meninos como o filho do Hernâni.
A história que o meu amigo Oliveira me mandou tocou-me. A vida do Hernâni são pedaços de vidas de muita gente que conheço.
Também eu gostava de dar um abraço ao Hernâni e dar-lhe solidariedade.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Deficiência Mental ou Incapacidade Mental

Deficiência ou incapacidade mental
Definição

A definição de deficiência mental ou incapacidade mental não é consensual entre os profissionais a definição concreta do termo deficiência mental, no entanto, a definição mais divulgada e de aceitação alargada e que predominou durante muitos anos é a que foi proposta, em 1992, pela American Association on Mental Retardation (AAMR), e que a define assim:

"A deficiência mental refere-se a um estado de funcionamento atípico no seio da comunidade, manifestando-se logo na infância, em que as limitações do funcionamento intelectual (inteligência) coexistem com as limitações no comportamento adaptativo. Para qualquer pessoa com deficiência mental, a descrição deste estado de funcionamento exige o conhecimento das suas capacidades e uma compreensão da estrutura e expectativas do meio social e pessoal do indivíduo".

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a deficiência mental é caracterizada por um funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, estando associado a limitações relativas a áreas adaptativas: comunicação; autonomia; actividades domésticas; socialização; autonomia na comunicação; responsabilização; saúde e segurança; académicas; lazer e trabalho.

ONU, Convenção sobre os direitos das pessoas com incapacidade, Assembleia Geral de Dezembro de 2006, “reconhece que a incapacidade é um conceito que resulta da interacção entre as pessoas com deficiências e as barreiras resultantes da atitude e do ambiente que impedem ou dificultam a participação plena e efectiva na sociedade em igualdade com os outros”, (do Preâmbulo da Convenção).
Destaca-se da Convenção a opção pelo termo “incapacidade”, preterindo “deficiência”, mas reconhece que a incapacidade resulta de “deficiências”. Esclarece que a “incapacidade” resulta das “barreiras”, que podem ser físicas ou culturais, que “dificultam a participação” na sociedade em igualdade com os semelhantes.

Os conceitos que emergem da Convenção da ONU e de todas as tentativas de definir incapacidade ou deficiência mental reforçam a concepção de direitos, de cultura, de responsabilidade social, mas pecam porque suavizam as reais situações sentidas e vividas pelos portadores das deficiências, não distinguindo os diferentes tipos de deficiência nem os níveis, mantendo uma concepção mais adequada às situações de deficiência com capacidade para vida com autonomia.
Para os capacitados para uma vida com independência, o direito ao trabalho adquire grande significado. Os portadores de deficiências mais incapacitantes não sentem esse direito como prioritário.
A deficiência mental é altamente incapacitante.
Não se reconhece autonomia e plena independência a um cidadão com mentalidade de 12 ou 15 anos. E a deficiência mental a mais ligeira manifesta-se pelos níveis de maturidade dessas idades.

Concluindo
Incapacidade mental ou deficiência mental:
Redução com carácter permanente da capacidade intelectual, com manifesta e significativa redução da autonomia e da independência pessoal, que se manifesta pela impossibilidade de operações intelectuais abstractas, que limita os portadores na vida diária de assumir plena responsabilidade pelos seus actos, que limita na vida social e adaptativa, com implicações na subsistência, nos cuidados de higiene pessoal, pedindo tutela de tutor, de acompanhamento e, em casos mais profundos, de vigilância.